Aproveitei a viagem que faço a Portugal para acompanhar as atividades alusivas à Revolução dos Cravos, rememorada todo 25 de Abril como um momento marcante na luta contra a ditadura e o fascismo, para uma rápida visita a Roma, na Itália.
Cheguei na cidade de Roma exatamente no domingo de Páscoa,
dia 20 de abril.
A visita tinha dois objetivos, encontrar os companheiros e
companheiras do núcleo do PT em Roma, para tratar de um decreto do governo
italiano sobre cidadania, e rever um amigo que a vida me deu, o ex- Cônsul da
Itália em São Paulo, Fillipo La Rosa.
A visita romana começou na casa do Fillipo que preparou um delicioso
almoço de Páscoa para a minha recepção. Um encontro de amigos, em que falamos
de vários assuntos, sendo o mais marcante deles nossa conversa e percepção sobre
o estado delicado de saúde do Papa e quais seriam seus possíveis sucessores. Em
meio à fragilidade de Francisco, foi inevitável num dia tão importante para a
Igreja Católica, ouvir as percepções de Fillipo sobre a escolha de um novo pontífice.
Sem citar nomes, neste texto que escrevo ainda sob o impacto do que vivi, meu
amigo italiano sugeriu três nomes que considera fortes para sucessão de
Francisco, todos cardeais de origem italiana.
Encerramos o assunto, eu e ele torcendo pela melhor solução
para o mundo e para a Igreja Católica, o pronto restabelecimento do Papa
Francisco.
Pois bem, depois do almoço visitamos monumentos históricos
com as companheiras e companheiros do PT de Roma, mas deixei a visita ao
Vaticano para o dia seguinte, segunda-feira, 21 de abril. Mal sabia eu o que me
esperava nesta caminhada até a Basílica de São Pedro na manhã daquela
segunda-feira.
Confesso que fui tomado pelos sentimentos de tristeza e
dúvida. O enredo do filme “O Conclave” e as impressões que meu amigo Padre
Júlio me apresentou sobre a película vieram rapidamente à minha mente. Nessa
conversa que tivemos, antes de eu assistir ao filme, Padre Júlio comentou de
detalhes, tais como os óculos e a tartaruga, sinais de semelhança com o Papa
Francisco. Filme e realidade se misturavam
naquela manhã.
Andei pela Praça de São Pedro por horas, uma praça cada vez
mais cheia de pessoas e veículos de imprensa atônitos com a notícia da morte do
Papa. Lembrei-me das conversas com Filippo no dia anterior, pensando agora de
forma concreta no futuro da Igreja Católica:
quem será seu representante na Terra? O próximo Papa terá a mesma
disposição de continuar defendendo os excluídos, os mais pobres? O próximo Papa
dará passos para manter o diálogo com os diferentes para construir pontes como
o fez Papa Francisco?
O clima de consternação aumentava, milhares de pessoas se
acumulavam na fila para acessar os detectores de metais e adentrar a praça. O
mundo virou seus olhos para a Basílica, e eu estava lá, vivendo tudo isso ao
vivo. Ao meio-dia, os sinos bateram de forma melancólica, anunciando o fim de um papado importante para
os mais excluídos da sociedade. Franciscus entrava para a história.
Não estarei em Roma durante os ritos de despedida. Já estou
em solo português. Me despedi do Papa Francisco no mesmo dia de sua morte,
rezando minhas orações em silêncio. Nos
próximos dias o mundo renderá ao Papa Francisco merecidas homenagens. Vejo
pelas redes que o presidente Lula pretende comparecer ao funeral e me sinto
representado.
O futuro da Igreja Católica será debatido em breve, assim
como espero em breve retornar à Itália, encontrar meu amigo Fillipo e continuar
essa prosa para confirmar os prognósticos do almoço de Páscoa, momento este que
ficará guardado para sempre em minha memória.
Torço para que os rumos da Igreja Católica permaneçam os
mesmos, fincados na Igreja dos pobres, dos excluídos, dos marginalizados,
aquela que está no meio do povo.
Viva Papa Francisco. Presente, hoje e sempre. Amém.


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